terça-feira, junho 27, 2006

o primeiro

o primeiro post, espero que venham muitos. Um texto que eu escrevi junto com uma amiga minha:

De um sorriso simples, de amor singelo, de palavras vãs, de gestos perdidos em espaços vagos... Das lágrimas derramadas... Nada mais... E ao mesmo tempo tanta coisa... de dois amantes, de dois afetos, nada mais, e tanto quanto poderiam amar-se... tantas lembranças... nada mais...
De um sonho... um soneto, um suspiro, um lírio entre as rosas cálidas. A dor entre o perdão, presa em agonia, liberta em palavras. Liberta em versos...

Será que posso mesmo sentir tudo isso???... que não se explica... que não se entende... mas que sinto como uma dor que rasga meu peito... que passa cegando meus olhos e me roubando os sentidos... que me deixa... e mesmo assim nunca me abandona...
E como não senti-lo? O inexplicável torpor que põe, nua, sobre ti, minha alma. Que cala minha vontade, a entrega em teus braços, prende-me em teus olhos. Mas ao mesmo me liberta de tal forma... como se pela primeira vez eu sentisse o vento a me soprar aos ouvidos... coisas que só ele mesmo entende... uma música... que confunde, que perturba... que machuca... e que me faz temer por mim... por nós...
Será mesmo que não há nada que eu possa fazer para parar o tempo? Naquele exato momento em que a brisa me amparava e as nuvens ainda não me deixavam tocar o chão??... eu podia mesmo voar...
No seu deleito nasceria o meu, no seu sorriso, no meu amor. E no incessante soprar dos ventos seus lábios encontrariam os meus e lá ficaríamos, no zelo de nosso amor proibido. Mas o vento para, as flores se tornam drogas, o beijo torna-se lembrança.
Talvez por que as rosas nem sempre sejam rosas... Talvez por que o sol não mais nasce ao leste... Pois o “pra sempre” é relativo como o tempo, e como ele padece com as horas e com os anos que vão ficando pra trás... As mesmas mãos não mais se encontram no breu do caminho para casa... As árvores não mais acolhem os mesmos amantes... A lua não mais ilumina o mesmo olhar...
O medo me confunde, não distingo o amor da fantasia, o paraíso esta na palma de minha mão, mas você não esta nele. Você é a adaga encravada em meu peito, que na dor me guia sempre ao mesmo bosque e eu simplesmente não posso suportar a dor.
Talvez se eu fechasse meus olhos, você estaria comigo, se eu fechasse meus olhos, você os fecharia comigo e a tudo mais iria embora. E se não os abríssemos nunca mais? Seria possível, a imagem tornar-se real? Se pudéssemos caminhar novamente de mãos dadas... Se nossos pés pudessem... Tocar aquela mesma areia úmida das ondas que vem... e vão... e vem novamente... Sem se importar se os dias passam, se as nuvens cobrem o céu... O mar nunca é o mesmo, mas as ondas continuam a ir e vir... Como a vida que da voltas em si mesma, apenas para unir o que o acaso separou...
E ficaríamos ali, na eternidade da fantasia, na eternidade do amor. Agora juntos, e de uma vez, para sempre. E se a eternidade se mostrasse breve, abraçaria seu corpo, beijaria sua boca, e, novamente, fecharíamos os olhos, de uma vez, para sempre.
Mas seus olhos recusam-se a fechar, sua boca me nega o beijo, seu coração me nega amor. E toda a fantasia de súbito torna-se algo tão inatingível como um sonho realmente é... Apenas um sonho, essencial como um sonho, mas, ainda assim um sonho... Tão irreal como um sonho tem de ser...

Rodrigo S.S & Ana terra Antunes Pagliuca